O município de Barra do Rio Azul, no noroeste do Rio Grande do Sul, historicamente sofre com as cheias do Rio Paloma e do Rio Azul, que cortam a cidade. Após a última enchente, em maio de 2024, o governo municipal encontrou na UFFS o apoio técnico e operacional necessário para o desenvolvimento de um plano de enfrentamento de futuras tragédias. O acordo foi estabelecido por pesquisadores do Campus Erechim, que já atuam em pesquisas na área de planejamento ambiental de bacias hidrográficas. “A ideia é que o grupo de trabalho da UFFS apresente alternativas, através de estudos técnicos, para que o município possa captar recursos para implementar ações de prevenção de problemas futuros em termos de enchentes. A primeira etapa, de curto prazo, levará em torno de 30 dias para entrega dos produtos e diagnóstico”, afirma a coordenadora acadêmica do Campus Erechim, Cherlei Marcia Coan.
O estudo apresentará um conjunto de sugestões no âmbito do planejamento ambiental de bacias hidrográficas. Pedro Boehl, professor do curso de Engenharia Ambiental e Sanitária, explica que algumas ações do grupo de trabalho já estão em curso. A equipe da UFFS finalizou o trabalho de campo, que consistiu em visitas técnicas para observação in loco da situação. Durante as visitas, os pesquisadores observaram, entre outras coisas, o assoreamento generalizado dos rios, a substituição da vegetação rasteira e gramíneas nativas por árvores de grande porte, como eucaliptos e outras, causando erosão hídrica, que resulta em deslizamentos nas encostas e nas margens dos rios.
Boehl comenta que eles também observaram um afunilamento da seção de vazão do rio em duas pontes, uma no Rio Paloma e outra no Rio Azul. “Acreditamos que esse afunilamento, junto com o assoreamento das margens dos rios, causa obstrução durante as chuvas, pois todos esses detritos se acumulam embaixo das pontes, formando uma espécie de pórtico que as apoia. Esses galhos e detritos se acumulam e ocasionam o transbordamento do rio para as laterais. A pressão da água acaba por quebrar esses galhos, resultando em um transbordamento com formação de ondas, que invadem a cidade”, explica.
Para apontar uma solução, a UFFS realizará a modelagem hidrológica da bacia e a hidrodinâmica do perímetro urbano do município, que servirão de base para a solução de engenharia necessária. São utilizados dados de chuvas de satélite, meteorológicos e de vazão. O professor José Mario Vicensi Grzybowski, que também integra a equipe, esclarece que as modelagens ajudarão a entender “a vazão que o rio e o sistema de drenagem terão que acomodar durante um evento de precipitação elevada, para que a situação de normalidade possa ser mantida. E, mais importante, poderemos testar soluções de engenharia antes que sejam implementadas na prática, aumentando sua eficácia e evitando o desperdício de recursos”, diz. Os estudos são realizados através de simulações computacionais.
A ocupação urbana em áreas de risco é o que mais preocupa no cenário de Barra do Rio Azul. O realocamento de parte da cidade para outro local pode ser uma possibilidade. Boehl acredita ser uma medida importante, tendo em vista que parte do centro do município está em área de risco. “Mas, além do centro, há outros loteamentos muito próximos do rio, a menos de 25 m da margem. Uma das medidas é o realocamento e um planejamento para construções futuras, levando em conta as áreas de risco de transbordamento e deslizamentos em encostas, além do acúmulo de terra. A destinação dessas terras para um alagamento controlado, com pisos drenantes e espaços públicos, seria uma alternativa para contenção das enchentes”, avalia Boehl.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS