Nos últimos dias, nossa redação jornalística tem recebido diversas denúncias de vandalismos que estão sendo praticados em Cruz Alta. Moradores da cidade, profissionais de segurança privada, alunos e cidadãos de outras partes do município têm nos enviado informações sobre o crescente número de depredações contra o patrimônio público. De espaços de lazer a monumentos históricos, os danos são numerosos e preocupantes.
Entre os casos mais alarmantes está o da centenária locomotiva A 42, um símbolo histórico de Cruz Alta. Fabricada em 1911 na Inglaterra, a locomotiva foi uma das últimas do modelo Pacific a chegar ao Brasil, tracionando trens pela antiga ferrovia Brazil Great Southern, que cortava o estado entre Itaqui e Barra do Quaraí. A locomotiva, que já se encontrava em estado de degradação, foi vandalizada nas últimas semanas de dezembro, com sua lateral completamente pichada. Mais do que isso, ela tem sido alvo de saques contínuos, com peças removidas ao longo dos últimos anos. A porta da antiga fornalha, por exemplo, foi completamente retirada, e alavancas e outros componentes também foram serrados e subtraídos. Além disso, moradores de rua e usuários de drogas têm frequentado o local, tornando a área ainda mais vulnerável a depredações.
A locomotiva A 42 não é apenas uma peça de ferro velha e abandonada. Ela é uma relíquia, uma memória viva da história ferroviária do estado. Em 1994, ela foi restaurada com grande orgulho e foi exibida como um símbolo de resistência e preservação histórica. Naquela época, estava em um espaço mais protegido, mas, com o tempo, foi deslocada para a área externa da antiga estação ferroviária, onde ficou exposta a intempéries e ao desinteresse da comunidade.
Outro ponto da cidade que sofreu com atos de vandalismo foi a pracinha localizada aos fundos do ginásio municipal de Cruz Alta. Inaugurada recentemente, em junho de 2024, a praça foi vandalizada logo após o ano novo. Praticamente todos os balanços destinados às crianças pequenas foram quebrados e danificados. Não parou por aí: furtos também ocorreram no local, e o campinho de grama sintética, que também havia sido inaugurado para a diversão das crianças, foi depredado. As grades protetoras ao redor do campo foram serradas e arrancadas, deixando restos de metal expostos e criando um grande risco para as crianças que frequentam a área. O lixo acumulado e o abandono do local só agravam a situação.
Os danos sofridos por essa praça, que deveria ser um lugar de convivência e lazer para a população, reflete um cenário de total desprezo pelos espaços públicos. A comunidade se sente insegura e desprotegida, principalmente os pais que levavam seus filhos para brincar no local. "É um lugar bonito, onde as famílias se reúnem. Fico com medo de trazer meus netos aqui e se machucarem com os restos das grades e o lixo espalhado", relatou uma moradora, visivelmente frustrada com a situação.
Na última terça-feira, 7 de janeiro, novos atos de vandalismo foram reportados em um local que também se tornou alvo de destruição: a pista de skate próxima à EASA. Inaugurada em 2016, a pista, que deveria ser um ponto de lazer para os jovens da cidade, já estava em péssimo estado, completamente pichada e riscada. Porém, nas últimas semanas, os danos se agravaram ainda mais. Boa parte do revestimento de mármore dos bancos de concreto que cercam a pista foi arrancado, deixando um cenário de total degradação. A pista, que já havia sido criada com o objetivo de oferecer uma alternativa de lazer para a juventude, está agora sendo usada durante as madrugadas por vândalos e usuários de drogas. "É lamentável. Quando inauguraram, as famílias vinham aqui com os filhos, mas hoje ninguém mais quer vir. O local virou ponto de encontro de baderneiros e pessoas que só querem destruir", desabafou uma moradora local, que preferiu não se identificar por medo de represálias.
A onda de vandalismo que tem atingido Cruz Alta também alcançou outros monumentos históricos da cidade. Em 2024, vários deles foram saqueados, e placas de metal, importantes símbolos da cidade, foram furtadas. O caso mais grave foi a destruição do monumento maçônico da Loja Harmonia Cruzaltense, inaugurado em 1995 e localizado próximo ao módulo da Brigada Militar na Avenida Saturnino de Brito. O monumento foi completamente destruído a golpes de marreta, e as peças de metal, que faziam parte de sua estrutura, foram furtadas. Essa destruição não só prejudica a cidade em termos de preservação de sua história, mas também causa um grande dano à sua identidade e à memória coletiva.
Em relação a esses atos criminosos, o Código Penal Brasileiro é claro: o artigo 163 considera crime a destruição, inutilização ou deterioração de bens públicos, e a pena para quem for pego em flagrante pode variar de seis meses a três anos de detenção, além de multa. O vandalismo no patrimônio público é um crime grave, que não só gera prejuízos financeiros à Administração Pública, mas também desestabiliza a convivência social e provoca uma sensação de insegurança e descaso nas comunidades.
A Administração Municipal de Cruz Alta, em resposta aos recentes atos de vandalismo, informou que a Coordenadoria de Segurança Pública está em contato com empresas de videomonitoramento e tomando as providências necessárias para investigar e identificar os responsáveis por essas ações. De acordo com as autoridades, as imagens serão analisadas para que sejam adotadas as medidas cabíveis, incluindo a responsabilização dos infratores.
"A Administração Pública vem e faz um projeto bacana, criam espaços bonitos para os jovens, mas esses vândalos vêm e destroem tudo. Estamos revoltados", comentou um morador que presenciou parte dos danos.
A população tem um papel fundamental na prevenção e combate a esses crimes. Denunciar os responsáveis pelo vandalismo à Polícia Militar pelo telefone 190 é uma das formas de garantir que essas práticas não se espalhem ainda mais. É importante que os cidadãos se unam para proteger o patrimônio público e preservar a memória histórica de Cruz Alta.
Os atos de vandalismo em Cruz Alta são uma triste realidade que reflete a falta de respeito pelo patrimônio público e pela comunidade. É urgente que as autoridades tomem medidas eficazes para combater essa onda de destruição e para que a cidade possa recuperar o que foi perdido. A preservação do patrimônio histórico, dos espaços públicos e da segurança da população deve ser uma prioridade para todos.
Reportagem e fotos: Jornalista Fernando Kopper