Mesmo internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) protagonizou uma cena incomum ao ser notificado, nesta quarta-feira (23), da abertura de uma ação penal no Supremo Tribunal Federal (STF), que o acusa de tentar articular um golpe de Estado. Em um vídeo de 11 minutos divulgado em suas redes sociais, Bolsonaro registra o momento em que uma oficial de Justiça entrega o documento no quarto do hospital, em Brasília, e o confronta com insistência.
Visivelmente incomodado, o ex-presidente questiona repetidamente quem teria ordenado a entrega da notificação judicial.
— Quem é a pessoa do Supremo que mandou a senhora vir até aqui? Foi o ministro Alexandre de Moraes? — indaga, após ler parte do documento.
A servidora responde que todas as informações constam na papelada, mas Bolsonaro insiste para que ela declare em voz alta o nome do responsável pela ordem. Em tom de protesto, ele ressalta o fato de estar hospitalizado e ter passado por um procedimento invasivo poucas horas antes:
— A senhora tem ciência de que está dentro de uma sala de UTI? O problema que eu tenho não é simulação. Eu levei uma facada há sete anos e tenho problema até hoje — afirmou.
O documento marca o início do prazo de cinco dias para que Bolsonaro apresente sua defesa formal no processo que investiga sua suposta tentativa de anular o resultado das eleições de 2022. Segundo o Ministério Público, ele teria apresentado uma proposta de intervenção às Forças Armadas para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em nota, o STF justificou que os demais réus foram notificados entre os dias 11 e 15 de abril, e que, no caso de Bolsonaro, a entrega só ocorreu agora por causa de sua internação. O tribunal também informou que uma live realizada por ele na terça-feira (22) demonstrou condições de receber a oficial de Justiça pessoalmente.
Ao final do vídeo, mesmo após as críticas e questionamentos, Bolsonaro assina o documento e reforça a tese de que "não teve acesso à minuta do golpe".
— Tudo no Supremo é secreto — declarou.
A ação penal inclui, além de Bolsonaro, outros sete investigados, todos tornados réus pelo STF em março.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper