Mais de três meses após a instalação das estruturas no bairro Sarandi, zona norte de Porto Alegre, as primeiras moradias temporárias do governo do Estado para vítimas da enchente ainda não foram entregues. Previstas inicialmente para março, as unidades seguem cercadas por tapumes, mato, barro e obras inacabadas. A nova promessa é de entrega a partir da próxima semana, com conclusão parcial até a metade de maio — mas a situação no local alimenta a desconfiança de quem ainda espera por um lar digno.
Em visita realizada nesta quinta-feira (1º), a reportagem encontrou um cenário que em nada lembra um conjunto habitacional prestes a receber famílias. O terreno segue como um canteiro de obras: materiais espalhados, caixas de esgoto expostas, máquinas paradas e nenhuma movimentação de trabalhadores. Apesar da previsão da prefeitura de Porto Alegre de que os meios-fios estariam sendo colocados, não havia qualquer equipe no local no momento da visita.
As 80 unidades, feitas em estrutura de concreto com 27 metros quadrados cada, estão dispostas no terreno, mas carecem de acessos pavimentados e de infraestrutura básica. Apenas a unidade usada pela Brigada Militar tem energia elétrica; as demais seguem sem iluminação, e a água só chegou recentemente para o uso dos policiais.
A frustração cresce entre os abrigados no Centro Humanitário de Acolhimento Vida, que chegaram a visitar o local e ouviram promessas de realocação já na segunda-feira (5). Diante do que viram, deixaram o terreno desacreditados de que a entrega se concretize no prazo. Muitos móveis ainda estão na embalagem ou sequer foram montados.
Segundo o secretário municipal de Obras, André Flores, a previsão agora é entregar parte das moradias até sexta-feira (9), e o restante na semana seguinte. Um cronograma detalhado de entrega deve ser divulgado nesta sexta-feira (2). Questionado sobre a ausência de trabalhadores no local, o secretário se disse surpreso e garantiu que a instalação elétrica será finalizada no fim de semana.
As moradias seguem o mesmo padrão das instaladas em cidades do Vale do Taquari: são unidades transportáveis compradas pelo Estado e mobiliadas para oferecer habitabilidade mínima às famílias. A responsabilidade pela infraestrutura — como ligações de água, luz, esgoto e pavimentação — é das prefeituras.
Enquanto isso, o vice-governador Gabriel Souza planeja fechar até o fim de maio os centros de acolhimento em Canoas e Porto Alegre, com a promessa de que as famílias dos abrigos serão realocadas. Em Canoas, 58 unidades semelhantes estão em preparação, mas também com previsão de conclusão apenas para a metade do mês.
A repetição de promessas não cumpridas e o estado precário da obra escancaram a falta de planejamento e de compromisso com quem mais precisa: as famílias que perderam tudo nas enchentes e seguem esperando por uma solução que tarda a chegar.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: GZH