Há exatos 80 anos, em 8 de maio de 1945, chegava ao fim um dos episódios mais devastadores da história da humanidade: a Segunda Guerra Mundial. A rendição oficial da Alemanha nazista às forças aliadas marcou o encerramento do conflito que envolveu dezenas de nações e causou milhões de mortes. O Brasil, que entrou formalmente na guerra em 1942, intensificou sua participação a partir de 1944, com o envio de mais de 25 mil militares para combater na Europa, integrando a Força Expedicionária Brasileira (FEB).
Oito décadas depois, os feitos dos soldados brasileiros seguem vivos na memória de 43 veteranos ainda vivos, segundo levantamento recente do Exército. Quatro deles vivem no Rio Grande do Sul: Elmo Diniz, 104 anos, e Oudinot Willadino, 100, em Porto Alegre; José Negri, 102, em Camargo, na Região Norte; e João da Silva Augustinho, também com 102 anos, em São Leopoldo, no Vale do Sinos.
A reportagem visitou os pracinhas da Capital, ambos lúcidos e em boas condições de saúde. O capitão Elmo Diniz, natural de Cruz Alta, reside com a esposa Eunice, 76, em um apartamento próximo ao Parque da Redenção, onde mantém o Espaço Cultural Capitão Elmo Diniz. Ali, o veterano exibe medalhas, fotos, objetos de campanha e lembranças da Itália. Aos 18 anos, ele era tropeiro e ingressou no Exército em 1939. Em 1944, partiu com a FEB para a Europa, onde ficou encarregado da logística de suprimentos para o front.
— O frio que enfrentamos nas barracas, os dias sem saber onde dormir... tudo isso marcou muito. Nunca fumei, distribuía os cigarros que recebíamos aos colegas. Talvez isso tenha ajudado a chegar até aqui — conta Elmo, que completou 104 anos em fevereiro.
Oudinot Willadino, natural de Santa Maria, foi soldado atirador e participou de algumas das principais batalhas da FEB. Após a guerra, fixou-se em Porto Alegre, onde trabalhou na Mesbla e formou-se em Direito. Em sua sala, no bairro Independência, expõe imagens da campanha e medalhas recebidas.
— Eu era jovem, foi uma aventura, mas também uma luta pela liberdade. Nas batalhas, vi os alemães fugirem da gente. Cumpri minha missão e sinto orgulho — afirma Willadino.
A atuação da FEB foi decisiva para os aliados, especialmente em confrontos como a Batalha de Monte Castello, travada entre novembro de 1944 e fevereiro de 1945. Após quatro tentativas, os brasileiros conquistaram a posição estratégica, enfrentando a resistência nazista em condições climáticas extremas, com temperaturas de até 20°C negativos.
— Foi a batalha mais difícil, escorregávamos nas pedras geladas, sofremos muito até a vitória — relembra Willadino.
Após Monte Castello, vieram conquistas como Montese, Collecchio e Fornovo di Taro, em abril de 1945. A rendição das tropas alemãs no dia 8 de maio foi o ponto final da campanha, mas os brasileiros ainda permaneceram por meses na Itália para colaborar com a estabilização do país.
O retorno ao Brasil, entre julho e setembro daquele ano, foi marcado por celebrações.
— A recepção no Rio foi inesquecível. Gritavam, arrancavam nossos capacetes e distintivos como lembrança — diz Willadino, entre sorrisos.
O historiador Luiz Ernani Caminha destaca que a missão superou até mesmo a magnitude da Guerra do Paraguai em termos logísticos. E o legado, segundo Ricardo Nácul, vice-presidente da Associação Nacional dos Veteranos da FEB no RS, vai além dos feitos militares:
— Foi uma demonstração de coragem e superação. Saíram de um país tropical para lutar em outro continente, em meio a neve, frio e um inimigo experiente. E voltaram vencedores.
A memória desses homens continua viva — não só nas fotos e medalhas, mas na história de um Brasil que, mesmo distante do epicentro do conflito, ajudou a escrever as páginas finais de uma guerra que mudou o mundo.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
Fonte: GZH