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Produtores voltam às rodovias em Cruz Alta e reforçam apelo por securitização: “O agro está pedindo socorro”, dizem lideranças
Publicado em 20/05/2025 14:45
AGRO

Na manhã desta terça-feira (20), um grupo expressivo de produtores rurais do Rio Grande do Sul se reuniu novamente no entroncamento das rodovias BR-377 e BR-158, em Cruz Alta, para uma manifestação pacífica, mas carregada de urgência e preocupação. O objetivo principal é cobrar do governo federal uma solução concreta para a securitização das dívidas rurais, tema que tem mobilizado agricultores de várias regiões do estado e que se tornou decisivo para a sobrevivência do setor agropecuário local.

A mobilização ocorre menos de uma semana após a primeira manifestação no mesmo local, quando a resposta do governo ainda era esperada. Entretanto, a ausência de avanços e de uma posição clara por parte das autoridades federais só aumentou a apreensão dos agricultores, que vivem na incerteza se conseguirão dar início ao plantio da safra de trigo prevista para agosto.

O vereador de Cruz Alta e produtor rural, Airton Becker, foi um dos principais nomes presentes na mobilização e destacou o impacto real e imediato que a indefinição causa na rotina do campo. “Estamos há meses, praticamente um ano, tentando uma negociação que permita o parcelamento justo das dívidas. O tempo passa e o plantio se aproxima, mas nada avança. Isso não é só um problema financeiro, é uma questão de sobrevivência para milhares de famílias que dependem do campo para viver,” afirmou Becker. Segundo ele, a falta da securitização significa que muitos agricultores não terão condições de financiar os insumos básicos para o plantio, como sementes, fertilizantes e defensivos agrícolas.

Além do vereador, a prefeita de Ibirubá, Jaqueline Brignoni Winsch, marcou presença no protesto para mostrar o apoio institucional da prefeitura. Ela ressaltou que a crise não afeta apenas o campo, mas reverbera em toda a economia local, que é fortemente dependente da agricultura. “Quando o produtor não planta, perde o sustento, os funcionários ficam sem emprego e o comércio local também sente o impacto. Por isso, essa mobilização é vital e a prefeitura está engajada em buscar diálogo com os governos estadual e federal para que essa situação seja resolvida,” destacou a prefeita.

A manifestação contou ainda com a presença de representantes e lideranças rurais de outras cidades da região, como Ibirubá, Pejuçara, Panambi e Boa Vista do Cadeado. O prefeito de Boa Vista do Cadeado, João Paulo Beltrão dos Santos, também participou do ato e ressaltou que a falta de políticas públicas eficazes para reestruturar o endividamento do produtor está gerando um colapso silencioso no interior. “O produtor não está pedindo esmola. Ele quer plantar, colher e pagar suas contas, mas o que o governo precisa entender é que, sem uma política séria de securitização, a inadimplência cresce, o crédito desaparece e o campo para. E se o campo para, as cidades pequenas como a nossa vão junto. Essa é a realidade,” alertou João Paulo.

O ex-presidente do Sindicato Rural de Palmeira das Missões, Hamilton Jardim, que tem acompanhado de perto o movimento desde o início, enfatizou que o governo federal vem protelando a decisão há mais de um ano, deixando os agricultores à mercê da instabilidade financeira. “Desde maio do ano passado, estamos numa longa espera por uma solução concreta. Já tivemos alguma redução nos juros, mas isso não resolve o problema principal, que é a securitização. Sem isso, o produtor fica sem margem para se organizar e seguir produzindo,” explicou Jardim.

Ele reforçou que a situação do agronegócio gaúcho é delicada, afetada por uma sequência de eventos climáticos adversos que causaram grandes perdas em diferentes safras, entre estiagens severas e enchentes intensas. “O que estamos vendo é a soma de problemas que poderia ser contornada com medidas governamentais eficazes. A falta de ações está empurrando o setor para uma crise sem precedentes,” alertou o ex-líder rural.

Durante a mobilização, vários produtores compartilharam relatos pessoais sobre as dificuldades enfrentadas. Um deles, que preferiu não se identificar, contou que a inadimplência crescente tem levado agricultores a perderem o acesso a linhas de crédito essenciais para o próximo ciclo agrícola. “Sem financiamento, não tem como comprar os insumos, não tem como plantar. Se a safra de trigo não sair, o impacto será sentido na cidade inteira, não só no campo,” afirmou.

A securitização das dívidas rurais, explicou o vereador Airton Becker, é uma forma de renegociar os débitos, transformando-os em títulos que podem ser parcelados ao longo do tempo, sem a cobrança imediata que sufoca o produtor. “Não estamos pedindo perdão, estamos pedindo prazo e condições para honrar nossos compromissos. Essa medida permitiria que o produtor tivesse fôlego para plantar, colher e pagar suas contas,” disse Becker, ressaltando que o atraso nas negociações já está causando prejuízos irreparáveis.

A prefeita Jaqueline Brignoni Winsch reforçou que a questão é urgente e que a prefeitura está buscando interlocução direta com deputados federais e senadores gaúchos para tentar acelerar a resposta do governo federal. “Estamos unidos em torno dessa causa porque ela impacta toda a comunidade. A agricultura é o motor da nossa economia, e se esse motor parar, todos sofremos as consequências,” afirmou.

A mobilização segue em ritmo crescente, com novas ações previstas para os próximos dias, enquanto os produtores rurais aguardam uma posição oficial do Ministério da Agricultura e do Ministério da Economia. A expectativa é que, caso a securitização não seja confirmada em breve, a próxima safra agrícola possa sofrer um colapso, impactando diretamente a produção de trigo, milho e outros grãos importantes para o estado e para o país.

Além do impacto econômico, especialistas alertam para as consequências sociais, já que o desemprego no meio rural pode crescer significativamente, afetando famílias e comunidades inteiras. A manifestação em Cruz Alta é um grito de alerta para que as autoridades não ignorem um dos setores mais importantes do Rio Grande do Sul.

Com informações: Jornalista Fernando Kopper

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