Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta quinta-feira, 22, o ex-comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, confirmou ter se reunido com o general de brigada Mário Fernandes, mas negou que o encontro, ocorrido em dezembro de 2022, tenha abordado a possibilidade de uma ruptura institucional ou o impedimento da posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
O depoimento foi prestado como parte do processo que apura tentativa de golpe de Estado envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o tenente-coronel Mauro Cid e outros aliados. A oitiva foi conduzida pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Arruda depôs como testemunha de defesa de Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência, que fechou acordo de delação premiada.
Durante as investigações, a Polícia Federal encontrou com Mário Fernandes o plano denominado "Punhal Verde e Amarelo", que previa a execução de autoridades, como o ministro Alexandre de Moraes, o presidente Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. A Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa Fernandes de coordenar ações de monitoramento e neutralização de autoridades públicas, integrando o chamado “núcleo de gerência” da trama golpista.
Reportagem do Estadão, publicada em 2023, revelou que o encontro entre Fernandes e Arruda ocorreu no dia 28 de dezembro de 2022, dois dias antes da posse de Lula. Na ocasião, Fernandes teria pressionado Arruda a agir contra a transmissão de cargo. A reportagem aponta que o general foi expulso do gabinete após sugerir a Arruda que “fizesse alguma coisa”. Questionado sobre o episódio, Arruda negou a expulsão e afirmou que a conversa não incluiu qualquer plano de impedir a posse do novo presidente.
Arruda permaneceu no comando do Exército por pouco mais de 20 dias no início do terceiro mandato de Lula. Foi exonerado em 21 de janeiro de 2023, após críticas sobre sua resistência a autorizar prisões no acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército e pela demora em cancelar a nomeação de Mauro Cid para uma nova função militar.
Durante o depoimento, Arruda também se defendeu das acusações de omissão diante dos atos de 8 de janeiro. Disse que não impediu a atuação da Polícia Militar do Distrito Federal e que seu papel era “acalmar os ânimos e coordenar ações”. Sobre a suposta ameaça feita ao então comandante da PM, coronel Fábio Augusto Vieira — que relatou ter ouvido de Arruda que “a tropa do Exército era maior” —, o general disse não se recordar da frase.
Além de Arruda, também foram ouvidos na sessão os generais Edson Diehl Ripoli e João Batista Bezerra, o capitão Adriano Alves Teperino, o sargento Luís Marcos dos Reis e o capitão Raphael Maciel Monteiro — todos ligados à ajudância de ordens da Presidência. As testemunhas afirmaram desconhecer a existência de um plano golpista e relataram que Mauro Cid, embora próximo de Bolsonaro, mantinha uma postura profissional e pouco falava sobre política.
A audiência no STF durou cerca de uma hora.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper