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Derrota do governo na queda do IOF expõe crise de articulação e enfraquece base de Lula no Congresso
Publicado em 26/06/2025 10:49
POLITICA
A derrubada do decreto presidencial que aumentava a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) foi mais do que uma simples derrota legislativa para o Palácio do Planalto. O episódio, marcado pela falta de articulação política e pela ampla rejeição do Congresso, revelou um cenário de desgaste acelerado na relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os líderes do Legislativo.
A maneira como a votação ocorreu evidenciou o distanciamento do governo das duas principais casas parlamentares. Tanto o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), quanto o do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), atuaram de forma independente e demonstraram pouca disposição em defender a proposta do Executivo, algo que Lula e sua equipe não previam.
Nos bastidores, parlamentares apontam duas razões principais para a insatisfação generalizada: a demora crônica na liberação de emendas parlamentares e o fato de o decreto ter sido editado sem qualquer consulta prévia ao Congresso. A irritação aumentou com a apresentação de um pacote alternativo de aumento de impostos que, segundo lideranças, piora a situação ao atingir setores ainda mais sensíveis da economia.
Com a rejeição do decreto, o Ministério da Fazenda vê-se pressionado a ampliar o contingenciamento orçamentário — que já chegou a R$ 31 bilhões no mês passado, o maior bloqueio de recursos da atual gestão. A necessidade de manter o cumprimento do arcabouço fiscal forçará o governo a reduzir ainda mais os investimentos públicos, atingindo áreas como educação e saúde.
A crise atinge em cheio os próprios parlamentares. Com o congelamento das verbas, as emendas parlamentares — principal moeda de troca entre Executivo e Legislativo — também estão sendo impactadas, o que contribui ainda mais para o afastamento das lideranças políticas da base aliada.
A tensão entre Lula e Alcolumbre também tem raízes em conflitos sobre nomeações em agências reguladoras e políticas do setor de energia. O senador, que cobra a demissão do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, está cada vez mais distante do Palácio, dificultando votações estratégicas.
Além disso, com a aproximação do calendário eleitoral de 2026, o apetite de partidos de centro e centro-direita em sustentar o Planalto diminui. Mesmo siglas com ministérios e cargos estratégicos na estrutura federal têm se mostrado relutantes em embarcar em projetos impopulares ou que exijam capital político.
Embora exista consenso sobre a necessidade de rever benefícios fiscais e aumentar a arrecadação, a principal barreira segue sendo a escolha dos setores que arcarão com a conta. No meio do impasse, o governo perde força, espaço e previsibilidade, deixando em dúvida a viabilidade de promessas de campanha e de projetos estruturais para os próximos anos.
O resultado da votação do IOF é apenas um sintoma. O que se apresenta agora é uma crise de sustentação política, que coloca em xeque a governabilidade e as chances de Lula construir uma base sólida até a disputa pela reeleição.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
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