Desde 1º de julho, o calendário nacional de vacinação passou a incluir a vacina meningocócica ACWY para crianças de 12 meses, ampliando a proteção contra a meningite oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A mudança foi anunciada no final de junho pelo Ministério da Saúde e substitui a dose de reforço da vacina contra o sorogrupo C, aplicada até então nessa faixa etária. A nova dose protege contra quatro sorogrupos da bactéria Neisseria meningitidis — A, C, W e Y — e representa um avanço importante na prevenção da forma mais grave da doença, especialmente em crianças.
Até agora, a vacina ACWY era oferecida gratuitamente apenas a adolescentes de 11 a 14 anos. Para os menores, a cobertura do SUS limitava-se ao sorogrupo C, o mais prevalente no país. Com a ampliação, os bebês passam a estar protegidos também contra os sorogrupos A, W e Y, considerados igualmente perigosos por especialistas.
Segundo a pediatra Flávia Bravo, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a principal diferença entre as duas versões da vacina está na abrangência da proteção. Apesar de usarem a mesma tecnologia — sendo vacinas inativadas, que não causam a doença — a ACWY oferece uma resposta imune mais ampla e eficaz. A médica destaca que o sorogrupo W, por exemplo, tem ganhado destaque por surtos registrados no Sul do Brasil e em países vizinhos, reforçando a importância da imunização ampliada para evitar alterações no cenário epidemiológico.
A vacina meningocócica ACWY é considerada segura, com reações adversas semelhantes às da vacina C: dor local, vermelhidão e inchaço. A única contraindicação é para pessoas com histórico de alergia aos componentes da vacina ou a doses anteriores.
Dados do Ministério da Saúde mostram uma tendência de queda no número de casos da doença nos últimos anos. Em 2025, já foram notificados 4.406 casos, sendo 361 causados por meningococos. Em 2024, o total foi de 13.831 registros, com 820 atribuídos à bactéria. Já em 2023, o país somou 16.464 casos, dos quais 730 foram confirmados como meningocócicos. Especialistas atribuem a redução especialmente à vacinação contra o sorogrupo C, cuja introdução no calendário infantil provocou uma queda expressiva nas infecções, especialmente entre crianças.
No entanto, o sucesso da imunização contra o sorogrupo C acabou mudando o perfil da doença. Hoje, sorogrupos como o B, que não têm vacina disponível no SUS para todas as faixas etárias, têm se tornado mais prevalentes entre os menores. A dificuldade de diagnóstico laboratorial completo, especialmente fora dos grandes centros, ainda representa um desafio. Em muitos casos, a coleta de material é prejudicada pela necessidade de iniciar o tratamento com antibióticos antes mesmo da confirmação do agente causador.
Com a mudança, o esquema vacinal contra meningite no SUS fica assim: meningocócica C aos 3 e 5 meses, ACWY aos 12 meses, e uma nova dose da ACWY entre 11 e 14 anos. O infectologista Alfredo Gilio, coordenador da Clínica de Imunizações do Hospital Israelita Albert Einstein, considera a alteração uma mudança significativa na estratégia nacional de prevenção, ampliando a proteção para sorogrupos que já representam 10% dos casos.
A meningite é uma inflamação das meninges, membranas que envolvem o cérebro, e pode evoluir rapidamente, com alto risco de morte ou de sequelas graves como surdez, amputações e comprometimento neurológico. Os principais sintomas são febre alta, dor de cabeça intensa, vômitos, rigidez na nuca e presença de manchas avermelhadas na pele. Diante desses sinais, a recomendação médica é buscar atendimento imediato e iniciar o tratamento o quanto antes. A vacinação é a principal medida de prevenção e agora se fortalece com a chegada da ACWY ao calendário infantil.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper