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Popularidade da tadalafila dispara no Brasil e levanta alerta sobre uso inadequado do medicamento
Publicado em 02/07/2025 14:38
SAÚDE
Lançada originalmente para o tratamento da disfunção erétil, a tadalafila ganhou os palcos, as academias e, principalmente, as prateleiras das farmácias brasileiras. Versos como “Sabe qual é o segredo pra aguentar a noite todinha? / Tadalafila, tadalafila” tornaram-se comuns em músicas populares, refletindo um fenômeno que vai além do uso médico: o medicamento passou a ser associado à performance sexual e ao desempenho físico, muitas vezes de forma incorreta.
Dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) revelam um crescimento acelerado nas vendas. Em 2020, 21,4 milhões de caixas foram vendidas no Brasil. Em 2023, esse número saltou para 47,2 milhões. Apenas no primeiro semestre de 2024, 31,1 milhões de caixas foram comercializadas, indicando a possibilidade de um novo recorde.
Um relatório da consultoria Close-Up International posicionou a tadalafila como a terceira molécula mais vendida do país em 2024, atrás apenas da losartana e da metformina. A receita gerada pelo medicamento ultrapassou R$ 1,2 bilhão, com o maior crescimento percentual entre os 20 produtos líderes em vendas.
Musculação e uso recreativo impulsionam procura
Especialistas apontam que parte do crescimento nas vendas tem origem no uso não recomendado da substância como pré-treino por frequentadores de academias, com base em uma suposição sem comprovação científica de que o remédio aumentaria a irrigação muscular e, consequentemente, o ganho de massa.
“Não há nenhuma base científica sólida para isso. Os estudos são escassos e com poucos participantes”, afirma Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia. “A própria atividade física já é suficiente para promover esse ganho.”
Outro fator relevante para a explosão do consumo está relacionado à busca por melhor desempenho sexual. Diferente da sildenafila, princípio ativo do Viagra, a tadalafila pode ser tomada continuamente e tem efeito prolongado de até 36 horas, o que a tornou uma opção atraente para homens de diferentes idades.
Indicações reais e riscos do uso indiscriminado
Apesar da popularidade, a bula da tadalafila indica o medicamento para três situações específicas: disfunção erétil, hiperplasia prostática benigna (aumento da próstata que dificulta a micção) e hipertensão pulmonar (em doses mais altas).
O uso sem orientação médica, porém, preocupa os profissionais da saúde. “As pessoas esquecem que esse não é um medicamento recreativo”, alerta Amouni Mourad, farmacêutica e assessora técnica do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo.
Entre os riscos do uso inadequado estão quedas bruscas de pressão arterial, especialmente em pacientes que fazem uso de medicamentos com nitratos, como nitroglicerina. Efeitos colaterais comuns incluem dor de cabeça, dor muscular, congestão nasal e refluxo. Casos raros podem evoluir para priapismo (ereção prolongada e dolorosa) ou eventos cardiovasculares graves.
Além dos riscos físicos, especialistas alertam para a dependência emocional. “Algumas pessoas passam a acreditar que só conseguirão ter um bom desempenho sexual com o uso da tadalafila, o que pode gerar ansiedade e insegurança”, explica Mourad.
A importância da prescrição médica
Apesar de a substância ser vendida apenas mediante apresentação de receita, a banalização do consumo tem sido favorecida pela disseminação de memes, músicas e conteúdos nas redes sociais. O uso sem prescrição, contudo, vai contra recomendações das principais entidades médicas e pode causar prejuízos à saúde física e emocional dos usuários.
A orientação dos especialistas é clara: a tadalafila só deve ser usada com acompanhamento profissional, respeitando as indicações clínicas e as particularidades de cada paciente.
Com o avanço das vendas e a popularização do uso indevido, cresce também a responsabilidade de profissionais, autoridades e da própria população em discutir os limites e os riscos do consumo não orientado de medicamentos destinados à saúde sexual e ao tratamento de condições específicas.
Com informações: Jornalista Fernando Kopper
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